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segunda-feira, agosto 21, 2006

O Poder da Tentação - Parte 1 - John Owen

SE CONSIDERARMOS SERIAMENTE nossa fraqueza, encontraremos abundantes razões para levar a sério nosso dever de “vigiar e orar”.

Nossas fraquezas podem ser vistas de dois ângulos:

1. Não temos Poder ou Força em nós mesmos para Suportar “a Hora da Provação”.

Uma boa parte da fraqueza de cada pessoa é uma confiança infundada na sua própria força. A confiança de Pedro em si mesmo (Mt 26.33) era, certamente, sua fraqueza. Muitas pessoas são assim. Nunca fazemos as coisas tão bem quanto pensamos que somos capazes de fazer. E o que é ainda pior é que os desejos pecaminosos são como um traidor dentro de nossos corações.

Estão prontos a nos trair para o inimigo. Essa é a razão por que nunca devemos nos vangloriar como se tivéssemos a força para resistir na hora da provação. Podemos nos vangloriar em pensar que há certas coisas que jamais faríamos. Esquecemos que o coração nunca é o mesmo diante da tentação como ele é antes de entrar na tentação. Pouco se apercebia Pedro de que iria negar o seu Senhor tão logo alguém o questionasse. Quando a hora da provação chegou, todas suas decisões foram esquecidas, todo seu amor por Cristo foi temporariamente sepultado, e a tentação se uniu ao temor de Pedro e o venceu completamente.

Confiar na própria força é uma falha tão comum que seremos sábios examinando-a um pouco mais de perto. No que estamos confiando?

a) De Modo Geral

Estamos confiando nos nossos próprios corações. Muitos incrédulos se ufanam de ter um bom coração mas a Bíblia diz: “o coração dos perversos vale muito pouco” (Pv 10.20). É contra o coração que a tentação irá se arremeter. Como um frágil coração poderá
resistir diante de uma forte tentação? O cristão verdadeiro que confia no seu próprio coração não está em melhor situação por que a Bíblia diz: “O que confia no seu coração é insensato” (Pv 28.26).

Pedro era um verdadeiro cristão, mas comportou-se como um tolo quando confiou no seu próprio coração. A Bíblia também diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17.9) Ousamos confiar naquilo que é enganoso... mais do que todas as coisas?

b) De Modo mais Específico

Estamos confiando em que o coração tenha motivação suficiente forte para evitar se deixar vencer pela tentação. Seriam essas motivações suficientemente fortes?
Pense em alguns exemplos:

i) O amor à honra do mundo

A reputação e a estima que uma pessoa tenha ganho ao longo dos anos de uma vida cristã fiel e de bom testemunho são muito valiosas. Certas pessoas pensam que essas coisas se constituem em motivação suficiente forte par permanecerem firmes na hora da provação. Essas pessoas pensam que preferirão morrer a abrir mão da reputação que granjearam na igreja de Deus. Todavia, infelizmente isso não é uma motivação suficiente para que uma pessoa não caia no pecado. De fato, não evitou que Himineu e Fileto caíssem (2 Tm 2.17). Nem guardará qualquer um de cair na hora da provação.

ii) O medo da vergonha, da perda e da reprovação

Certas pessoa crêem que o simples temor de trazer vergonha sobre si mesmas ou sobre a causa de Cristo é um incentivo suficientemente forte para mantê-las firmes na hora da provação. Isso só pode ser de valor no caso de tentações públicas, que conduzem a pecados observáveis. Aqueles que dependem desta motivação, logo descobrirão no dia da tentação que ela não tem o poder que lhe atribuíam.

iii) O temor de uma consciência perturbada e o medo do inferno

O temor de uma consciência ferida e de ir ao inferno são pensamentos que devemos considerar freqüentemente. Estes temores, porém, por si mesmos, não nos dão garantias de que permaneceremos firmes na hora da provação. Há pelo menos três razões por que estas considerações falharão e não nos sustentarão:

(a) Às vezes a paz de consciência que uma pessoa quer preservar é uma falsa paz. Depois que Davi pecou com Bate-Seba e antes que o profeta Natã o advertisse, Davi estava em paz. Era uma falsa paz. Pior ainda, muitos incrédulos pensam que têm paz com Deus, entretanto é uma falsa paz. Assim como uma paz falsa será inútil no dia do juízo, ela também se evidenciará impotente na hora da provação.

(b) Uma verdadeira paz de consciência é muito valiosa. Ela porém, por si mesma, não será suficiente para preservar uma pessoa na hora da provação. A razão é que um coração enganoso é capaz de produzir grande número de razões que mostram não ser importante preservar a paz de consciência. Eis aqui duas delas: “Outros cristãos caíram e recuperaram sua paz”. E, “Se eu perder minha paz eu posso recuperá-la”. Quando a hora da provação chegar, estes e outros argumentos logo levarão a alma à estafa e conseqüentemente à abrir mão de sua paz.

(c) Pensarmos que o desejo de manter nossa paz de consciência é suficiente para nos preservar na hora da provação é como um soldado pensar que, enquanto usar o capacete não será ferido na batalha. A paz de consciência é uma parte da armadura necessária para vencermos a tentação. Contudo, a tentação logo encontrará um alvo desprotegido.

iv) A Impiedade de Pecarmos contra Deus

Você pode possuir uma consciência vívida da impiedade de pecarmos contra Deus. Isso parece ser uma forte proteção contra a hora da provação. Pois bem, como pecarei contra o Deus da minha salvação? Como ferirei o meu salvador Jesus Cristo que morreu por mim? Mais uma vez é preciso que se diga que esta proteção pro si mesma não é suficiente para nos guardar de pecar na hora da provação. Cada dia que passa nos fornece tristes evidências de que essa consideração por si só fracassará. Toda vez que um filho de Deus cai no pecado, isso evidencia que a tentação venceu essa proteção.

Temos considerado a fraqueza do ponto de vista de nossa falta de poder. Precisamos considerar:

2. O Poder que a Tentação tem de Obscurecer a nossa Mente.

A bebida afeta o entendimento do homem (Os 4.11). A tentação afeta o entendimento da mesma maneira. O deus deste mundo cega as mentes daqueles que não crêem no evangelho para que não vejam a glória de Cristo (2Cor 4.4). De um modo muito semelhante, cada tentação tira a clareza do entendimento e do juízo. A tentação exerce seu poder de muitas maneiras, entretanto o consideraremos apenas três daquelas, aquelas que são as mais comuns:

a) A tentação pode dominar a imaginação e os pensamentos de tal maneira que a pessoa não pode pensar em outra coisa.

Se uma pessoa é tentada, existem várias considerações que lhe poderiam trazer alívio, porém a tentação é tão forte que domina sua mente e sua imaginação. Ele é incapaz de se concentrar nas coisas que a libertaria. É como uma pessoa dominada por um problema. Há muitas maneiras de elaborar uma solução para o problema mas ela está tão preocupada com o problema que está cega para as possíveis soluções.

b) A tentação pode usar os desejos e as emoções de um homem para turvar sua mente, impedindo-o de pensar claramente

Sempre que uma pessoa permite que seus desejos e suas emoções controlem o seu entendimento, ela deixará de pensar com clareza. Muitas vezes a tentação cativará de tal maneira seus desejos e suas emoções, que ela não mais será capaz de controlar a razão. Antes de um homem entrar numa tentação em particular, é possível perceber que certo curso de ação está errado. No entanto, quando a tentação chega nos seus desejos e nas suas emoções, ele já não mais pensa claramente. Logo estará pensando em maneiras de justificar ou desculpar suas ações pecaminosas.

c) A tentação inflamará os desejos maus do coração de um homem, de maneira tal que eles controlarão a sua mente

Desejos pecaminosos são como o fogo. A tentação é o combustível que o incendiará de modo que fuja ao seu controle. A razão humana freqüentemente o persuadirá a refrear os seus desejos pecaminosos, lembrando-o das conseqüências do que ele quer fazer. Se o fogo da tentação agir nos desejos pecaminosos, a razão não mais terá a capacidade de se precaver contra eles. Ninguém conhece a violência e o poder do desejo pecaminoso até que esse desejo se defronte com uma tentação adequada para ele. Até mesmo os melhores homens ficarão surpresos e assombrados com o poder de um desejo pecaminoso quando se depara com uma tentação adequada. Pense tão-somente como o medo de Pedro o levou tão depressa a negar o Seu Senhor. Você ousaria se considerar mais forte que ele quando enfrenta um inimigo tão poderoso?