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terça-feira, agosto 22, 2006

O Poder da Tentação 2 - John Owen

3. O Poder da Tentação Comunitária

No Apocalipse 3.10: O Senhor fala da tentação (“hora da provação”) “que há de vir sobre o mundo inteiro, para tentar os que habitam na terra”. Essa “hora da provação” veio pra testar os cristãos descuidados naqueles dias. Satanás veio como um leão rugindo para persegui-los, e como um anjo de luz procurando desviá-los. Precisamos pensar me três aspectos deste tipo de tentação:

a) Este tipo de tentação é um julgamento vindo de Deus e Deus tem dois propósitos através dele

Um é a punição do mundo que tem desprezado o Seu evangelho. O outro é o julgamento daqueles que falsamente professam ser cristãos. Isto significa que a provação tem um poder especial de modo que executará o propósito divino. A Bíblia fala de pessoas que “não acolheram o amor da verdade para serem salvas”; pessoas que não creram na verdade mas se deleitaram com a injustiça. Para puni-las, “Deus lhes manda a operação do erra para darem crédito a mentira...” (2Ts 2.9-12). Deus não mudou.

Na sua santa soberania Ele ainda manda tais provações, e elas nunca são em vão. Deus lhes dá poderes de modo que elas alcancem e produzam o que Ele deseja.

b) Este tipo de provação envolve a tentação para seguir o exemplo de outros professos que têm a reputação de serem piedosos.

Em tempos de crescente impiedade, o padrão da piedade do povo de Deus decairá. Este declínio começará com alguns cristãos que se tornarão relaxados, mundanos, sendo negligentes com seus deveres cristãos. Estes cristãos questionarão os velhos caminhos e se sentirão a vontade para seguir seus desejos pecaminosos. Inicialmente, outros cristãos os condenarão e, talvez, até mesmo os repreendam. Depois de algum tempo, porém, maior número de cristãos se acomodará ao exemplo destes poucos cristãos. Não vai demorar muito para que seja difícil encontrar alguém que realmente seja piedoso.

Este princípio, o de que “um pouco de fermento leveda a massa toda” (1Co 5.6; Gl 5.9), precisa ser levado a sério. Com apenas uns poucos cristãos influentes prosseguindo em seu declínio espiritual e justificando-se diante dos outros, logo uma multidão seguirá o exemplo deles. É mais fácil seguir a multidão para praticar o mal do que se colocar firme do lado daquilo que é certo. O mesmo princípio se evidencia na questão do ensino falso.

Do que se precisa para mudar toda a posição doutrinária de uma igreja? Tudo do que se necessita é de alguns cristãos influentes que continuem promovendo e justificando ensinos falsos. Não vai demorar muito para que uma multidão os siga.

Quão poucos são os cristãos que percebem a força da tentação para seguirmos o exemplo dos outros! Em cada geração os cristãos precisam aprender a colocar sua confiança na Palavra de Deus e não nos homens piedosos. Se formos humildes, acharemos necessário considerar seriamente a opinião e as práticas daqueles que têm reputação de serem piedosos. Contudo, não é necessário seguirmos o seu exemplo se suas opiniões e práticas são contrárias a Palavra de Deus.

b) Este tipo de tentação geralmente inclui fortes razões para acompanharmos uma multidão em direção ao mal

No ponto anterior observamos que há uma forte tentação para que sigamos o exemplo de pessoas que têm uma boa reputação. Além disso, estes líderes que nos induzem ao mal oferecem as melhores razões pra justificar suas opiniões ou o exemplo que dão. Você estaria pronto a pensar por você mesmo? Se for assim, você será dificilmente enganado pelas falsas conclusões das outras pessoas.

O Novo Testamento, por exemplo, nos dá, indubitavelmente, ensinos claros sobre a liberdade que os cristãos têm em Cristo. Infelizmente, não é difícil alguns perverterem esse ensino. Lenta e deliberadamente as salvaguardas da santa lei de Deus são removidas e a liberdade cristã se transforma em licença para pecar. Se os cristãos percebessem logo no início do ensino par onde a falsa interpretação os estaria levando, provavelmente eles se voltariam dela horrorizados.

Pode bem ser que muitos desses ensinadores, eles mesmos, não saibam para onde seus ensinamentos os estão conduzindo. A princípio o desvio da verdade parece ser pequeno e insignificante. Sem se aperceberem, tais ensinadores e seus seguidores se afastam mais e mais da verdade, até que se constate que “mudaram a verdade de Deus em mentira” (Rm 1.25).

Há por exemplo, hoje, um número crescente de cristãos professos que se inclinam na direção de amenizar e anular a condenação bíblica das práticas homossexuais. Esta é uma ilustração bem atuas deste princípio.

4. O Poder da Tentação Pessoal

Já consideramos, em parte, o poder da tentação no que tange a seu efeito sobre o indivíduo sob o título “O poder que a tentação tem de obscurecer a nossa mente”. Queremos, agora, simplesmente acrescentar mais dois pontos:

a) Em primeiro lugar

Por que é que “a hora da provação” é tão forte? Há dois poderes em ação quando somos tentados. Um é o poder da tentação que está fora de nós. O outro é o desejo pecaminoso do coração. Na “hora da provação” estes dois poderes se encontram e cada um deles fortalece o outro. Por causa da tentação nossos desejos pecaminosos são fortalecidos; devido eles serem assim fortalecidos, o poder da tentação para nos levar a cair fica ainda mais forte.

Há algumas pessoas (inclusive alguns cristãos) que outrora nunca teriam pensado em cometer certos atos pecaminosos. Estão agora cometendo-os com pouco sentimento de vergonha ou remorso. Como é que isso veio a acontecer? Podemos ilustrar o processo com um exemplo bem simples: a ruptura de um matrimônio cristão pelo adultério. Quando essas pessoas se casaram, esperavam genuinamente permanecer fiéis. Mas por toda parte vemos adultério, até mesmo entre cristãos. Como é que isso acontece?

A resposta se encontra neste princípio do poder da tentação estar fortalecendo o desejo pecaminoso pelo adultério. Assim como o desejo pecaminoso é fortalecido, assim também o poder da tentação cresce até que o poder combinado dos dois persuade a pessoa a cometer o pecado da adultério. Este não é um evento que ocorre subitamente. Houve um processo que ocorreu, um processo que persistiu durante muitos anos antes que o pecado de fato fosse praticado. Muitas vezes o processo se dá da seguinte maneira: depois de alguns anos de vida matrimonial, um dos cônjuges experimenta a tentação para ser infiel. Esta primeira tentação encontra guarida por que apela para um desejo pecaminoso que já existe no coração.

A primeira tentação encontra certa resposta, mas a alma a resiste parcialmente. Pode ser que, até mesmo se sinta chocada por estar considerando tal coisa. A tentação é resistida. Muito embora a tentação tenha sido resistida ela chegou a entrar na alma e começou sua obra de fortalecer o desejo pecaminoso daquele pecado. A tentação alimenta esse desejo de diversas maneiras. Sendo assim, o desejo cresce. Disso resulta que a própria tentação cresce na sua força. Depois de certo tempo o desejo pecaminoso tem se tornado tão forte que só necessita de uma tentação que lhe propicie uma ocasião adequada a fim de que o pecado seja cometido.

Só existe uma maneira de nós lidarmos de modo satisfatório com a questão da resistência à tentação: é irmos diretamente contra os desejos pecaminosos aos quais a tentação apela, procurando fortalecê-los. Tão logo tomemos consciência de um desejo pecaminoso, quer seja a ambição, o orgulho, o mundanismo, a impureza ou qualquer outra coisa, é mister que busquemos mortificar esse desejo. A escolha é esta: ou mortificamos o desejo pecaminoso ou nossa alma morrerá.

b) Em segundo lugar

Precisamos, também, considerar que a obra da tentação afeta toda a alma e não apenas os desejos pecaminosos aos quais ela apela. Podemos ilustrar isto voltando ao nosso exemplo anterior. Quando a primeira tentação à infidelidade vem a um cristão, sua razão lhe diz que esta tentação precisa ser resistida. Uma vez, porém, tendo a tentação entrado na sua alma, ela agirá na razão também. A razão deveria ser governada pela consciência e se opor à tentação. Contudo, acontece que ela se torna governada pelo desejo e favorece a tentação. Na medida em que o desejo pecaminoso fica mais forte, ele irá, de um jeito ou de outro, apoderar-se de toda a alma.

Notamos, mais uma vez, que há um processo se desenvolvendo. No início, dirigida pela voz da consciência, a razão se opõe a tentação. Tendo a tentação entrado na alma, constatamos que progressivamente a razão vai agindo a favor da tentação. Dentro de pouco tempo, a razão, que previamente não podia contemplar esse pecado, começa lentamente a pensar no prazer que o pecado trará. Passo a passo a razão é induzida para afugentar o temor e o medo do pecado. Finalmente, ela estará incentivando e justificando o próprio pecado que antes não podia sequer contemplar. É amedrontador considerar o poder da tentação em perverter o uso da razão, com vistas aos seus fins iníquos.

Aprenda da sua Própria Experiência.

Deveríamos sempre aprender de nossa própria experiência, assim como da de outros. O que é que sua própria experiência de tentação no passado lhe ensina? Acaso não lhe ensina que a tentação maculou sua consciência, perturbou ou roubou sua paz, enfraqueceu-o na sua obediência e escondeu o sorriso de Deus de você? Pode ser que a tentação tenha falhado e não o tenha conseguido persuadir a dar vazão ao seu desejo pecaminoso. Até mesmo quando isso ocorre, não seria verdade que ela deixou gravada na sua alma sua sujeira e lhe causou grande tormento? Todos admitimos que, raramente, se é que alguma vez isso se dá, saímos da tentação sem alguma perda espiritual.

Se essa é a sua experiência, então como poderia você voluntariamente se deixar enredar pela tentação? Se você gozando de liberdade da tentação, cuide-se muito para evitar que entre na tentação outra vez caso alguma coisa pior lhe suceda.

O alvo de satanás ao tentar os homens é sempre o mesmo. Em cada tentação o alvo principal é sempre o mesmo. É sempre desonrar a Deus e arruinar nossas almas. Acaso você trata levianamente a tentação o brinca com ela quando sabe o que ela pretende obter? Crê, realmente, que a tentação quer alcançar tanto você como Deus? Se for assim, então a gratidão a Deus exige que você use os meios que Deus colocou à sua disposição para frustrar o alvo de satanás quando ele o tenta.